terça-feira, setembro 07, 2010

CONDUTA CRISTÃ - 2. AS "VIRTUDES CARDEAIS"

2. AS "VIRTUDES CARDEAIS"
O capítulo anterior foi originalmente concebido co­mo um breve colóquio para ser levado ao ar pelo rádio.
Quando você não pode falar por mais de dez mi­nutos, quase tudo tem de ser sacrificado em prol da concisão. Uma das principais razões pelas quais dividi a moral em três partes (com a imagem dos navios em comboio) foi que me pareceu ser esse o caminho mais curto para dizer o que tinha de dizer. Agora, gostaria de dar uma idéia de outro esquema no qual o assunto foi dividido por escritores antigos, um esquema que, embo­ra fosse longo demais para aquele colóquio, é excelente. De acordo com esse esquema mais longo, existem sete "virtudes". Quatro delas são chamadas virtudes "car­deais", e as restantes, virtudes "teológicas". As "cardeais" são as que toda pessoa civilizada reconhece; já as "teoló­gicas", em geral, só os cristãos conhecem. Tratarei das teo­lógicas mais adiante. Por enquanto, ocupar-me-ei das quatro virtudes cardeais. (A palavra "cardeal" não tem nenhuma relação com os "cardeais" da Igreja Católica. E derivada da palavra latina que significa "gonzo da porta". São chamadas virtudes "cardeais" porque são, podería­mos dizer, virtudes "fundamentais".) São elas: a PRUDÊN­CIA, a TEMPERANÇA, a JUSTIÇA e a FORTALEZA.
A prudência significa a sabedoria prática, parar para pensar nos nossos atos e em suas conseqüências. Nos dias de hoje, a maioria das pessoas já não considera a Prudência uma "virtude". Inclusive, como Cristo disse que só entrariam em seu Reino os que fossem como crianças, muitos cristãos pensam que podem ser tolos, desde que sejam "bonzinhos". E um erro. Em primeiro lugar, muitas crianças demonstram ter bastante "pru­dência" quando fazem coisas que são do seu interesse, e conseguem pensar a respeito dessas coisas com bas­tante sensatez. Em segundo lugar, como esclarece São Paulo, Cristo nunca quis que fôssemos como crianças na inteligência - muito pelo contrário. Ele nos exortou a ser não apenas "simples como as pombas", mas tam­bém "prudentes como as serpentes". Quer de nós um coração de criança, mas uma cabeça de adulto. Quer-nos simples, centrados, afetuosos e dóceis no aprendizado, como as boas crianças são; mas também quer que cada fração da inteligência que possuímos esteja alerta e afia­da para a batalha. O fato de você dar dinheiro para uma obra de caridade não quer dizer que não deva tentar sa­ber se a instituição de caridade é fraudulenta ou não. O fato de você pensar em Deus (por exemplo, quando reza) não significa que deva contentar-se com as cren­ças infantis que alimentava aos cinco anos de idade. É verdade que Deus não deixará de amar ninguém, nem deixará de utilizar uma pessoa como seu instrumento por ter nascido com um cérebro de segunda classe. Ele tem um coração grande o suficiente para abrigar pes­soas de pouco senso, mas quer que cada um de nós use o senso que lhe coube. Não devemos ter como lema "Seja boa, doce menina, e deixe a inteligência para quem a possui", mas sim "Seja boa, doce menina, e não se es­queça de ser o mais inteligente que puder". Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pen­sando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará em­barcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclu­sive o cérebro. Felizmente, existe uma compensação. Aquele que se esforça honestamente para ser cristão logo percebe que sua inteligência está aprimorada. Um dos motivos pelos quais não é necessário grande estudo para se tornar cristão é que o cristianismo é em si mesmo uma educação. Foi por isso que um crente ignorante, como Bunyan, foi capaz de escrever um livro que es­pantou o mundo inteiro.
Temperança, infelizmente, é uma palavra que per­deu seu significado original. Hoje em dia ela significa a abstinência total de bebidas alcoólicas. Na época em que a segunda virtude cardeal recebeu esse nome, ela não significava nada disso. A temperança não se referia ape­nas à bebida, mas aos prazeres em geral; e não implicava a abstinência, mas a moderação e o não-passar dos li­mites. (...) Uma das marcas de um cer­to tipo de mau caráter é que ele não consegue se privar de algo sem querer que todo o mundo se prive também. Esse não é o caminho cristão. Um indivíduo cris­tão pode achar por bem abster-se de uma série de coi­sas por razões específicas - do casamento, da carne, da cerveja ou do cinema; no momento, porém, em que começa a dizer que essas coisas são ruins em si mesmas, ou em que começa a fazer cara feia para as pessoas que usam essas coisas, ele se desviou do caminho.
A restrição moderna do uso da palavra temperan­ça à questão da bebida fez um grande mal. Ela ajuda as pessoas a esquecer que existem muitas coisas em rela­ção às quais podemos faltar com a temperança. O homem que transforma suas partidas de golfe ou sua motocicle­ta no centro de sua vida, ou a mulher que dedica todos os seus pensamentos a roupas, a partidas de bridge ou ao seu cachorro, estão sendo tão intemperantes quanto o sujeito que bebe muito. E claro que, visto de fora, o pro­blema não é tão evidente: a mania de golfe ou de bridge não deixa a pessoa caída na sarjeta. Deus, porém, não se deixa enganar pelas aparências.
A justiça pressupõe muito mais do que os afazeres de um tribunal. E apenas o antigo nome do que hoje chamamos de "imparcialidade", que inclui a honesti­dade, a reciprocidade, a veracidade, o cumprimento da palavra e todas as coisas desse tipo. A fortaleza, por fim, abarca os dois tipos de coragem - a que nos leva a enfrentar o perigo e a que nos leva a suportar a dor.
Guts (literalmente “intestino”) talvez seja o sinônimo mais aproximado no inglês moderno. Você pode notar que não se consegue colo­car em prática nenhuma das outras virtudes por muito tempo sem ter de recorrer a essa.
Há ainda outra questão sobre as virtudes que mere­ce ser destacada. Há uma diferença entre executar um ato de justiça ou temperança, por um lado, e ser uma pessoa justa ou temperada, por outro. Alguém que não jogue tê­nis muito bem pode, vez ou outra, executar uma grande jogada. O jogador bom é aquele cujos olhos, músculos e nervos estão tão bem treinados pela execução de boas jo­gadas que já se tornaram de confiança. Existe nele um certo tom ou qualidade que transparece mesmo quando não está jogando, da mesma forma que a mente de um matemático possui certos hábitos e atitudes que não po­dem deixar de ser notados mesmo quando ele não está empenhado em fazer matemática. Igualmente, um ho­mem que persevere na prática de atos justos terminará por obter uma certa qualidade de caráter. O que chama­mos de "virtude" é essa qualidade, e não as ações isoladas.
Essa distinção é importante porque, se pensarmos somente em ações isoladas, estaremos encorajando três idéias erradas.
1) Podemos pensar que, já que fizemos uma coisa certa, não importa como ou por que motivo a fizemos - se espontaneamente ou não, de mau humor ou com alegria, por medo da opinião pública ou por amor ao bem. A verdade é que as ações corretas praticadas pelas razões erradas não nos ajudam a construir a qualidade inter­na ou caráter chamada "virtude", e é essa qualidade ou caráter que realmente interessa. (Se um jogador medío­cre de tênis dá um saque muito forte porque perdeu a cabeça e não porque avaliou que a força era necessária, esse saque pode até, com sorte, levá-lo a vencer o jogo, mas não vai transformá-lo num bom jogador.)
2) Podemos ser levados a crer que Deus quer sim­plesmente a obediência a uma lista de regras, ao passo que o que ele realmente quer são pessoas dotadas de um determinado caráter.
3) Podemos pensar que as "virtudes" são necessárias apenas para a nossa vida presente — e que no outro mun­do podemos parar de ser justos pois não há nada sobre o que brigar, ou parar de ser corajosos porque não exis­te mais o perigo. E verdade que provavelmente não ha­verá ocasião para praticar a justiça ou a coragem na ou­tra vida, mas haverá uma abundância de ocasiões para sermos o tipo de pessoa que nos tornamos ao praticar esses atos aqui. A questão não é que Deus vá negar nossa entrada na vida eterna se não tivermos certas qualidades de caráter, mas que, se as pessoas não tiverem pelo me­nos os rudimentos dessas qualidades dentro de si, ne­nhuma condição exterior poderá ser um "Paraíso" para elas - em outras palavras, nenhuma condição exterior poderá dar-lhes a forte, profunda e inabalável alegria que Deus tencionou para nós.

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Um comentário:

Unknown disse...

eu so to fazendo esse comentario,porkke mha professora de catriscismo mandoou o site pra gente,e a gente olhoow,e ela tbm pidiu pra gente fazer um comentario,eu to fazendo pkke eu gosteii do ttexto...!!!!!@@@@@meiiiiiireluslit